O Livro didático e a Educação Matemática: uma história inseparável





A partir da ideia da colônia portuguesa em  impulsionar a formação dos  militares  que desbravavam terras além-mar, houve a necessidade de instruí-los. Para tal instrução houve a formação de cursos de  fortificações, havendo uma enorme dificuldade em ter livros adequados  como recursos  auxiliadores de tal formação. .A matemática se faz dependente da utilização do livro didático desde  tal época, sendo  esta  que mais tem a sua trajetória histórica atrelada  a utilização de tal recurso.   O livro como fonte de pesquisa  da história da matemática, é  um precioso documento para os saberes escolares dos educandos, tornado-se indissociável.
Em uma dada época, para o ensino de uma disciplina, todos os livros didáticos "dizem a mesma coisa, ou quase isso", pois a produção encontra-se estável, o que chamamos de vulgata escolar; porém há momento em que impulsionado pelos mais diversos determinantes, o historiador encontra produções que intentam dar origem a um novo modo de organização do ensino.
 Quando falamos em livro didático e educação matemática, estes  parecem ser elementos indissociáveis. Isso nos leva a pensar que a história da educação matemática se liga diretamente às transformações das vulgatas. Investigar como ocorreram essas transformações implicará investigar a própria história da educação matemática.  O problema da utilização de livros didáticos como fonte para história de uma disciplina escolar;  no caso,como fonte para história da matemática pode ficar balizado pela busca inicial daquelas produções inovadoras que, de tempos em tempos, surgem como veículos de uma nova visão para o ensino de matemática. No entanto, buscar, num dado período histórico, manuais inovadores representa uma condição necessária para a escrita da trajetória histórica de um determinado saber.
O livro didático é utilizado como um recurso  que mais comumente se faz pesquisas sobre algum  tema, assunto ou conteúdo  determinado pelo historiador; por exemplo:estudo do Teorema de Pitágoras, de Thales; ou, ainda,  conjunto dos números irracionais, dentre muitos outros interesses temáticos; levando, o historiador ou o leitor a isolar determinado conteúdo dos inúmeros outros elementos da obra.Pegar vários livros de diferentes épocas e analisar,é ver o passado nas marcas do presente, apenas fazendo comparações de conteúdos.
Até a década de 1920, a referência maior para a produção de livros didáticos das diferentes disciplinas, inclusive a matemática, era o  Rio de Janeiro.
A criação, em 1926, da Companhia Editora Nacional, em São Paulo, por Octales Marcondes e José Bento Monteiro Lobato, começou a modificar esse panorama. O surgimento da Nacional inaugurou uma nova fase no mercado editorial brasileiro, marcando a entrada  do capitalismo de edição no Brasil dos anos 30.
Inovadora em muitos aspectos da concepção, da produção e da distribuição de livros, a editora dedicou especial atenção às obras didáticas, com agressiva estratégia de divulgação. A Nacional se transformou na maior editora do Brasil, voltando seus negócios para os livros escolares; porém ao lançar um dos primeiros livros de matemática, teve uma tentativa mal-sucedida, somente em 1930 a Naional lançou em São Paulo, o livro  “O primeiro ano de matemática”, que teve mais quatro volumes.
À criação do primeiro campeão de vendas em termos de livros didáticos de matemática pela Nacional, seguiu-se um de sucesso comparável e até superior ao primeiro. Nos anos 1940, surgiria um dos maiores autores da Editora: Ary Quintella. A biografia profissional de Quintella credenciou-o a fazer parte do quadro da Nacional e ver transformados seus livros didáticos de matemática em best-sellers educacionais.
O livro didático de matemática de outros tempos revela-se como importante meio para a pesquisa da história da educação matemática. Rompendo com a análise estritamente interna dos conteúdos matemáticos desses livros, o historiador da educação matemática buscará enredá-lo numa teia de significados, de modo a que ele possa ser visto e analisado em toda a complexidade que apresenta qualquer objeto cultural. Nessa teia estão presentes múltiplos elementos. Da concepção da obra pelos autores, passando pelo processo de como foi produzido e sofreu a ação das casas editoriais, chegando às mãos de alunos e professores e sendo utilizado por eles, o livro didático de  matemática poderá revelar, inclusive, heranças de práticas pedagógicas do ensino de matemática, presentes em nosso cotidiano escolar hoje.

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